31 de janeiro de 2013

“Testemunhar a fidelidade de Deus, onde a confiança vacila”

Integrado nas comemorações do seu centenário, a Basílica do Santuário de Fátima acolheu, no passado dia 13 de Janeiro o Padre Tony Neves, Provincial da Congregação do Espírito Santo, para uma conferência sobre o tema“ Testemunhar a fidelidade de Deus onde a confiança vacila”. 

O Padre Tony, padre com larga experiência missionária em Portugal e além-fronteiras, viveu entre 1989 e 1994, a realidade da guerra civil em Angola, mais concretamente no Huambo onde, constantemente teve que decidir entre continuar e ficar junto do povo, no meio do conflito ou partir… 

Começando com o testemunho de Maria “mulher de coragem “ e “fidelidade a Deus”, e da atualidade que a mensagem de Fátima propõe ao mundo de “mudar os obstáculos à justiça, à paz e ao amor” o sacerdote partilhou a visão de que “a confiança, em muitos momentos e contextos, vacila, mas a fidelidade de Deus não falha nunca. E isto muda tudo!” 

Pegando em breves palavras de Bento XVI sobre o ano da Fé, e também nas mensagens que os bispos de Portugal têm deixado sobre a vida missionária, nomeadamente na Carta Pastoral ‘Como Eu vos fiz, fazei vós também’. Para um rosto missionário da Igreja em Portugal’ (CEP, 2010), apresentou exemplos dos dias de hoje, tal como os inúmeros cristãos que continuam a ser perseguidos e mortos um pouco por todo o mundo, por continuarem a acreditar e confiar em Deus. 

Foi exemplo disso o testemunho que deu sobre a vida de vários mártires dos nossos dias entre sacerdotes, irmãos e a Leiga portuguese Idalina Gomes, que perderam as suas vidas em Angola e Moçambique ao serviço do Evangelho. Vidas dadas em missão na defesa do povo, da paz e na denúncia das injustiças. 

Defendeu o missionário que “foi a convicção de que a fidelidade de Deus nunca falha que levou estes homens e mulheres a ficar em áreas de conflito e instabilidade…decidiram, como missionários, ficar por qualquer preço, partilhando a sorte e a má sorte das populações pobres a quem foram enviados. Podiam ter saído de lá a qualquer momento, mas sentiram que aquele era o lugar onde Deus os queria.” 

Exemplo igualmente retratado no belo filme “Dos Homens e dos Deuses’ sobre a vida dos monges Monges Trapistas do Monte Atlas, assassinados na Argélia. Monges que vivendo num “contexto muçulmano, em tempo de luta aberta entre grupos extremistas e um governo corrupto” resolvem, apesar de todos os riscos e adversidade, ficar com o povo, não o abandonando, numa atitude de fé “ à prova de tudo” numa entrega de confiança na missão fora de portas. 

Disse o Padre Tony que “fora da nossa área de conforto, sentimo-nos mais frágeis, mais humildes, mais dependentes dos outros. Como que a terra nos foge de debaixo dos pés. Em alguns contextos de pobreza e violência, sentimo-nos ameaçados e sem outra segurança que não seja a Deus. É a Fé que nos diz que o lugar mais seguro do mundo é aquele onde Deus nos quer e, aconteça o que acontecer, estamos onde devemos estar.” 

Continuando partilhou duas ideias para a “conversão do mundo” através da ação e contemplação, defendida pelo Professor José Matoso (na conferência de encerramento do Congresso Internacional Ordens e Congregações Religiosas em Portugal. Memória, Presença e Diásporas, proferida na Gulbenkian, em Lisboa a 5 de Novembro de 2010) e da Igreja com a dinâmica das primeiras comunidades cristãs, atentas à necessidade de partilha do pão, fraternidade, oração e anunciadores, com fidelidade ao Evangelho, defendida por D. António Couto (na sua intervenção no Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização proferida em Roma, a 13 de Outubro de 2012). 

Depois de apresentar um decálogo para a Missão hoje, concluiu desejando que, num mundo em que a missão continua de “alto risco”, com tantos conflitos e perseguições, “sejamos dignos do Batismo que recebemos e da Missão que Deus nos continua a confiar, sabendo que Ele é sempre fiel”, desafiando a olhar “para o exemplo de Maria e para a força que a Mensagem de Fátima constitui para as nossas vidas e para a nossa Missão”. 

Fernanda Ramalhoto

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