Testemunho de Jorge Pereira sobre a Missão do Sendi, no Sul de Angola, na qual esteve durante o mês de Agosto.
A tão desejada e aguardada viagem para Angola, finalmente se concretizara, nesta que foi
a minha primeira missão fora de Portugal. A estadia em Luanda foi curta, pois uma longa viagem de 12 horas, de automóvel, nos separava da Missão do Sendi. A nossa chegada era aguardada ansiosamente pelos rapazes e raparigas que vivem nos lares, e logo no primeiro contacto a certeza instalou-se: faríamos uma boa parceria com eles. Depois de lhes saciar a curiosidade, confessando-lhes qual era o nosso país natal, a afirmação de um menino de 12 anos, imobilizou-me por dentro – “Portugal – a terra do sonho”. Cedo percebi que ainda veem Portugal como o El Dorado, quando muitos Portugueses fazem a viagem no sentido inverso!
Durante a nossa permanência acompanhei os rapazes nos seus estudos, através de explicações e apoio na leitura, na Língua de Camões, cultivamos uma horta e transformamos árvores de fruto num belo pomar. Houve ainda tempo para orientar aulas de alfabetização a alunos que há muito tinham ultrapassado a idade escolar. Esta última experiência marcou-me profundamente, pois apesar dos conteúdos estarem ao alcance de qualquer criança de 6 anos…, eles tiveram imensa dificuldade em os assimilar, porque nunca foram estimulados a raciocinar.
Nessa Missão, bem no sul, vive o Irmão Júlio, svd, castelhano de gema, radicado há mais de 30 anos em Angola e que é o responsável pelo Lar masculino. Foi espantoso observar a forma como ele dedica a sua vida àquelas crianças e o carinho como apresenta o Lar às pessoas que por lá passam. Mantêm, orgulhosamente, todo o espaço limpo. Qualquer rapaz que “transgrida” as regras é imediatamente chamado à atenção, com um profundo amor paternal.
Tivemos a possibilidade de visitar 2 dos 11 locais de culto, confiados à Missão do Sendi, onde testemunhei a alegria com que as pessoas participavam nas longas eucaristias. Numa dessas eucaristias celebraram-se 14 casamentos, 25 batizados e 40 raparigas fizeram a sua iniciação na vida adulta, através de um ritual próprio!
As pessoas vivem em kimbos, agrupadas por famílias, partilhando os produtos das hortas que cultivam.
O facto de ter decidido aceitar esta missão para estar com os outros e ser para os outros, o facto de viver esta missão com a minha esposa, permitiu deixar-me contagiar pela alegria de todos, tornando esta minha experiência extremamente enriquecedora e gratificante.
Ficaram pequenas gotas de água…na imensidão daquela terra!
Jorge Pereira
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