3 de setembro de 2009

MISSAO KAKOLO

Pela 5ª vez o grupo Diálogos, leigos SVD para a Missão esteve durante o mês de Agosto, num projecto de voluntariado missionário em Angola. O Augusto, a Fátima, a Fernanda, e o Pe. Devendra, partilharam o seu mês com a comunidade católica de Kakolo, na província da Lunda Sul a 800 km da capital Luanda. Esta missão verbita, após um período conturbado durante a guerra civil, foi reaberta em 2003, e integra a assistência a comunidades tão distantes como Kaungula e Cuilo.
As dificuldades dos voluntários foram muitas, antes da partida, pois, além do encanto do inesperado, houve também tudo o que está inerente a qualquer viagem: papéis, burocracias, etc. No entanto, o grupo não desanimou e partiu naquele tão ansiado dia 31 de Julho, com alguns receios e dúvidas, relativamente aos relacionamentos e à experiência que se iria viver, mas com a fé de quem é chamado por Deus a partir. Não é fácil partir em missão, ainda que por um mês, deixar a família e os amigos, e logo no mês de férias do nosso trabalho, e após um ano cheio de cansaços.



Na chegada, pela manhã, a Luanda, a chuva brindou-nos em jeito de boas vindas. Depois de um pequeno descanso e logo após o almoço, partimos ate KaKulama guiados por aquele “santo”, o “nosso” Padre Denis que nos levou até à 1ª etapa do nosso destino, embalados pelo som de música católica indiana. Para alguns, foi um reviver de paisagens cheiros e sons que já fazem parte da nossa história de vida. Para o Padre Devendra esta foi a sua 1ª experiência em África, e o seu olhar devorava cada milímetro do que via. Foram 400 Km até ao 1º destino, a missão de Kakulama! Demorámos cerca de 6 horas num percurso em que até há 2 anos se demorava, no mínimo 12h, e o coração do Augusto, a cada quilómetro que faltava, palpitava de emoção, pois ele já lá esteve em Missão por 2 vezes em anos anteriores. O olhar de alegria do Augusto era bem visível à chegada, apesar da noite e do escuro (o gerador estava avariado). No domingo foi uma alegria participar na celebração eucarística de Kakulama e voltar a partilhar com o povo a mensagem de que o grupo continua com esta comunidade presente na sua oração. No dia seguinte, partimos para o nosso destino final onde iriamos estar durante esse mês. Mais 400 km foram percorridos até a missão que tanto ouviámos falar: Kakolo. Fomos acolhidos com muito entusiasmo por parte da comunidade verbita (o pároco P. Ladeira e o Padre Sonny) e ainda pelas Irmãs Teresa e Celestina da Congregação Missionária Consoladoras de Jesus.


Cheios de força e euforia rapidamente começámos o planeamento das actividades a realizar durante esse mês, pela equipa missionária: formação de catequistas, formação de professores, encontro com o grupo da PROMAICA (Promoção da Mulher Angolana na Igreja Católica), grupos de mamãs, alfabetização, leitores, adolescentes, vocacionados, grupo de preparação para o baptismo e famílias. Nos dias seguintes visitámos algumas aldeias, com participação na celebração da eucaristia. Houve ainda, tempo para aceder aos convites feitos ao grupo, para dar palestras na administração local e no comando da polícia. O curso de catequistas, realizou-se durante uma semana, durante a qual os participantes, que vieram de várias comunidades, permaneceram em KaKolo, longe das suas casas e famílias, para se prepararem melhor para serem catequistas, os quais asseguram, nas suas comunidades, a celebração da palavra. Nos encontros com os restantes grupos tentou-se, essencialmente, valorizar temas como: ética e deontologia, valores cristãos, importância da família e relações familiares, vivência em comunidade, promoção da mulher e violência doméstica. 
Durante 5 dias o Augusto teve, ainda, a oportunidade de acompanhar o padre Sonny e visitar uma comunidade tão querida ao padre Carlos Matos (verbita que se encontra na comunidade de Guimarães): Kaungula. Uma viagem difícil de 290 km por terra batida, mas que se revelou gratificante no encontro com o povo. Lá encontrou uma população que recorda, com carinho, o tempo em que os missionários do Verbo Divino tinham uma presença permanente na comunidade (esperança que não perdem e que manifestaram ter de que um dia essa realidade volte a acontecer). Por seu turno, a Fernanda foi com o padre Ladeira, até ao Quilo (270 km) acompanhar a primeira visita que um Bispo fez à comunidade. D. José Manuel Imbamba (nomeado o ano passado Bispo do Dundo, e administrador apostólico da diocese de Saurimo) foi recebido com euforia e em grande festa pelo povo, que há 48 anos, e desde a criação da comunidade, ansiava pela visita do seu pastor. Na comunidade de KaKolo o padre Devendra ficou a assegurar o trabalho habitual dos confrades, e para ele foi gratificante assumir sozinho a missão! Nem se notou que era a primeira vez que estava em África. Também a Fátima teve o prazer de iniciar as aulas de formação pedagógica de professores. Para ela foi extremamente gratificante abrir as portas e receber 85 professores e futuros professores. Eles mostraram-se ansiosos por esta oportunidade de formação e mesmo após o cansaço de um dia de trabalho estavam ali todos os finais do dia, atentos, mesmos nas vezes em que a formação teve que ser dada à luza de velas. Aquelas 2 horas diárias eram aguardadas e vividas com a sede de quem quer muito aprender coisas novas para melhor poder ensinar. Houve, ainda, tempo para o lazer. Cada ida ao rio para ir buscar água (para beber, lavar e fazer comida), era aproveitada ao máximo.

De todas as experiências, que tivemos este mês, a mais marcante foi a do acolhimento sentido em todos os lugares por onde passamos ou estivemos. Em Angola existem muitas dificuldades apesar de já serem observadas grandes mudanças. Apesar das carências sociais que são muitas; falta de água, de comida, escolas, cuidados de saúde, habitação e muitas outras coisas, o certo é que quando uma porta se abre o rico dá o melhor que tem e o pobre dá tudo do pouco que tem. Temos muito a aprender com este povo, pois dar do que não em faz falta é fácil, mas dar o pouco que se tem não é fácil de encontrar por cá. Este povo é muito rico na alegria, na simplicidade e na fé, o que contagia e faz a diferença para quem vai.

Não é a riqueza material que procuramos mas é a riqueza espiritual que obtemos, tesouro que só se encontra quando damos a nossa vida, por amor e gratuitamente, aos outros.

Tunasakuila*

Augusto Ribeiro, Fátima Ribeiro, Fernanda Ramalhoto e Pe. Devendra Bhuriya, svd

(* agradecemos em tchokwe, lingua local)

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