14 de fevereiro de 2023

O TEMPO NÃO PARA...

Há alguns anos, conheci um casal muito querido. Já tinham bastante idade, problemas de saúde e, por isso, estavam num lar de idosos. Era muito bonita a forma como se relacionavam. À noite, antes de se deitarem, davam um beijo de boa noite e, devido aos seus problemas de saúde, dormiam em camas separadas, com grades, para sua segurança. Contudo, nem isso os conseguia separar. Davam as mãos, desejavam boa noite um ao outro e adormeciam assim! De manhã, quem acordasse primeiro, ficava a olhar para o seu amor, com um olhar muito meigo e carinhoso e, quando o outro acordasse dava-lhe os bons dias e perguntavam um ao outro, com um carinho enorme: “Dormiste bem? Estás bem?“ Eu presenciei este e outros momentos ternurentos deste lindo casal. Um exemplo para muitos casais que, mesmo sem problemas de distanciamento físico, lamentavelmente, parecem não se importar com o outro.

Mesmo não tendo barreiras… Diz-se que, quando um casal é assim tão unido e têm uma cumplicidade tão grande, quando um morre o outro morre quase de seguida… Morre de desgosto, de tristeza, da falta que sente da pessoa amada. Eu acredito que isto é verdade! Já testemunhei vários casos em que isto realmente aconteceu. A pessoa não consegue ultrapassar a dor, a falta que a outra lhe faz. A vida deixa de fazer sentido, mesmo com todo o apoio familiar. A vida, literalmente, para! As pessoas não vivem, apenas sobrevivem! Agarram-se às memórias, aos acontecimentos vividos com a pessoa amada e, só e apenas isso, as faz respirar! Este lindo casal, quando os conheci, a senhora tinha 96 anos e o senhor 98! Já passaram cerca de 5 anos e, infelizmente, já faleceram ambos. Como diz a belíssima canção da Mariza, “O tempo não para”.

Sílvia Guimarães
(Publicado originalmente no Contacto nº251)

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